Budapeste – sem covid

Testemunho de Erasmus pela Mariana Campos no 1º semestre do ano letivo 2017/2018

Porquê ir de Erasmus?

Talvez seja um clichê, mas a verdade é que sempre foi um dos meus objetivos enquanto estudante. Desde cedo que via pessoas a irem de Erasmus, tinha amigos que foram em anos anteriores e que acabaram por me passar a experiência e o bichinho por ir. No início não conhecia ninguém que se quisesse candidatar, mas mantive sempre o objetivo. Só mais tarde, e à medida que ia procurando destinos, é que acabei por descobrir que uma amiga também se estava a candidatar e estávamos as duas na mesma situação em que não sabíamos muito bem para onde queríamos ir, apenas sabíamos que queríamos ir.

Qual é a reação quando não se é selecionado para a primeira opção?

Esta pergunta tem uma certa piada porque não entrei em nenhuma das minhas primeiras opções, só entrei em Budapeste na segunda fase de candidaturas e como última opção. Acabei por me juntar com uma amiga minha do curso que estava na mesma situação e procurámos juntas outros destinos como alternativa, com a ajuda do professor Fernando Antunes que também nos foi informando dos destinos que ainda tinham vagas livres.

Com isto o que quero dizer é que não há problema nenhum com o facto de não se conseguir entrar na primeira opção ou mesmo na primeira fase. Graças a isso acabei por ir para Budapeste e foi das melhores experiências de sempre.

Qual foi a tua maior dificuldade no processo de equivalências?

Na altura já tinham ido pessoas do departamento para Budapeste, no entanto, que tivéssemos conhecimento, eram só pessoas de Engenharia Mecânica e não de Engenharia e Gestão Industrial que era o nosso curso. Por isso, fomos um bocado à descoberta ao nível das equivalências, cadeiras e a sua dificuldade. Apesar de haver receio por um lado, também nos cativou saber que íamos ser as primeiras pessoas de EGI (que conhecêssemos) a ir para Budapeste e a desvendar tudo pela primeira vez. Agora as pessoas já sabem mais ou menos o que os espera porque já existe mais feedback, mas nós na altura nem sabíamos se ia ser difícil fazer as cadeiras, se íamos encontrar muitos portugueses, outras coisas… agora rio-me sempre que penso nisso e em todas as dúvidas e medos que tivemos.

Mas no fundo, encontrar equivalências é muito parecido com os outros destinos. Tem de se fazer uma pesquisa no site da Universidade e procurar disciplinas nas diferentes faculdades, que sejam dadas em inglês claro, e que se assemelhem com as que querem. Depois disso é mostrarem e discutirem a melhor solução com o vosso coordenador de curso.

Tivemos só um problema, mais ou menos a um mês de irmos para Budapeste, porque houve uma disciplina que não chegou a abrir nenhuma turma lá, pelo que tivemos de procurar uma nova equivalência para a cadeira. 

Isto até parece que estou a mentir, mas houve uma cadeira que gostei imenso e que achei mesmo muito interessante que era Sectorial Sustainability Analyses. As aulas nem eram obrigatórias e nós íamos porque gostávamos.

Estas disciplinas, como são dadas em inglês, acho que não têm muitos estudantes de Budapeste, então acabas por ter aulas só com alunos de Erasmus. Percebes logo que vai muita gente fazer Erasmus para lá, ao ponto de se abrirem tantas turmas em inglês que são praticamente exclusivas para alunos de mobilidade.

Sentiste-te bem recebida pelo país? Como é que foram os primeiros tempos?

Logo na primeira semana de aulas há uma sessão de boas vindas a alunos de Erasmus, onde falou o diretor da faculdade e o pessoal da ESN e depois dessa sessão tens oportunidade de fazer os cartões da ESN e recebes logo o papel que precisas de submeter no inforestudante para provar que chegaste à data prevista. Acho que a semana estava muito bem organizada porque deu para tratar de tudo o que era preciso, as inscrições e cartões relativos à universidade e depois atividades para nos conhecermos a todos.

Com isto, por um lado, acho que fomos mesmo muito bem recebidas por parte da ESN. Adicionaram-nos logo em grupos do Facebook e Whatsapp, estavam sempre a partilhar eventos de boas vindas ou atividades que fossem fazendo e mostraram-se muito disponíveis para ajudar. Por outro lado, não achei que as pessoas locais, ou seja, as pessoas de Budapeste fossem muito acolhedoras. Por exemplo, eu ia ao supermercado e falavam sempre comigo em húngaro. Eu dizia “hello” ou “Good afternoon”, eles notavam que eu era estrangeira e mesmo assim falavam em húngaro. Houve vezes que teve de ser a pessoas atrás de mim na fila de pagamento a traduzir-me porque as pessoas do supermercado nem se esforçavam para tentar falar inglês comigo ou nem mesmo por gestos para eu entender.

Mas o facto de achar que o povo de Budapeste não fosse muito caloroso, não interferiu na minha experiência de Erasmus. Quando ia sair ou mesmo quando ia para as aulas ou para a faculdade era muito fixe e como falávamos com diferentes pessoas e de outros países era tudo super animado e havia sempre bom ambiente. 

Não se têm de preocupar porque há uma integração muito fácil logo no início graças à ESN. Eles têm um espírito muito aberto e estão sempre a organizar festas, viagens, voluntariado. 

Como foi o processo de arranjar casa, visto que em Budapeste não é costume ficar em residências?

Nas férias começámos a ver casas em sites e grupos de Facebook e percebemos que os preços eram um bocado elevados, pagas mais do que em Coimbra no geral. Com isto acabámos por adotar uma estratégia diferente e fomos para Budapeste 15 dias antes das aulas começarem. Ficámos num airbnb na primeira semana e começámos logo a procurar casas mais “a fundo” por assim dizer. Acho que foi o melhor que fizemos porque tivemos feedback de pessoas que tinham dado entrada em casas e quando lá chegaram as casas não existiam. Acho que correu tudo bem, os airbnbs nem eram assim tão caros e deu para ir vendo anúncios, ver as casas e escolher a melhor opção para nós.

As casas, para além de as achar com uma arquitetura muito engraçada e serem espaçosas, por norma estavam todas bem equipadas e com aquecimento, etc, até porque a maioria são para alugar a estudantes de Erasmus.

Como eram os transportes, ainda por cima tendo em conta que a faculdade é de um lado do rio e a vida noturna do outro?

Notei bastante diferença relativamente a Coimbra. Em Budapeste existia o TRAM (metro à superfície) que estava em funcionamento 24h por dia, de 3 em 3 minutos e facilmente chegavas onde querias entre 5-15 min). Basicamente tínhamos à nossa disposição diferentes tipos de transporte, comprávamos o passe (que até era relativamente barato) e tínhamos acesso ao TRAM, metro, barco, elétricos, etc e era muito bom porque funcionavam a toda a hora e para toda a cidade.

E a nível de segurança?

Senti-me sempre segura. Acho que não houve nenhum momento em que sentisse algum tipo de medo, na verdade. No entanto, havia ruas que tinham imensos sem abrigos, mas mesmo assim nunca me senti intimidada e nunca fui abordada por ninguém.

Que diferenças notaste mais em relação a Coimbra ou mesmo a Portugal?

Em Budapeste havia muitas lojas de conveniência que estavam abertas durante 24h. Às vezes estávamos em casa e apetecia-nos alguma coisa ou precisávamos de algo e tínhamos sempre a loja de conveniência como opção a qualquer hora.

A nível da alimentação, lembro-me que a fast food era muito barata. No início também achei um bocado assustador as primeiras vezes que fui ao supermercado que não havia quase fruta ou legumes nenhuns. Uma coisa engraçada é que antes de irmos dizíamos, a brincar, que íamos comer muito atum para poupar dinheiro para viajar. Quando lá chegámos percebemos que o atum era muito mais caro do que em Portugal, no entanto o frango era mais barato. Mas é mesmo o oposto de Portugal, cá temos um corredor com gomas, batatas fritas, chocolates etc. Lá não, era quase o supermercado todo e essa comida não saudável e era bastante barata.

No entanto, se fosses aos hipermercados a variedade já era melhor e mais normal, digamos assim. Mas lá está, os supermercados a que eu normalmente ia eram os “spar” que eram estilo minipreço e eram muito mais próximos e de mais fácil acesso (ao longo da linha do TRAM que era onde nós vivíamos). Os hipermercados eram, por exemplo, nos centros comerciais maiores e ficavam mais ou menos a 10/15min.

Se tivesses que selecionar o momento mais marcante, qual escolhias?

Acho que foi logo na minha primeira noite. Estávamos um bocado nervosas porque não conhecíamos nada nem ninguém ainda e fomos a um dos bares mais conhecidos de Erasmus que é o Morrison’s. Quando chegámos lá, começámos a pedir baldes e estávamos as três a falar (eu e as outras duas raparigas que foram comigo do DEM) e acabámos por conhecer outros portugueses que estavam do outro lado do bar porque nos ouviram a falar português. Acabámos por nos juntar com eles e pelo meio juntou-se um rapaz alemão. Já no final da noite, estávamos super cansadas por ter sido o primeiro dia, mas ele insistiu que tínhamos que ir a um sítio que um amigo dele tinha recomendado e que era obrigatório ir. Lá nos convenceu a ir e fomos todos a pé, naquele início de manhã, para um sítio que tinha uma vista incrível da cidade, senão uma das melhores vistas de Budapeste: “Citadella”. 

Budapeste é um sítio muito estratégico para viajar, nós tivemos a oportunidade de fazer bastantes viagens a preços bastante acessíveis. No entanto, acho que nenhuma cidade se compara com Budapeste – depois de viveres e estudares lá, vais dizer que nenhuma cidade se compara àquela. Tu podes visitar muitas cidades e existem muitas cidades bonitas, mas nenhuma se equipara a Budapeste.