Testemunho de Erasmus pela Maria Catarina no 1º semestre do ano letivo 2018/2019
Em primeiro lugar perceber o que te levou a candidatares-te no programa Erasmus+. Na decisão de qual destino escolher, tratou-se de uma escolha pessoal ou os teus amigos que se candidataram no mesmo ano que tu, tiverem um peso na decisão?
Esta pergunta é engraçada porque o Brasil nunca esteve no meu leque de opções, aliás na altura candidatei-me primeiro ao programa Erasmus+ com Cracóvia como destino. A minha decisão mudou quando uma amiga minha do departamento se candidatou para Florianópolis e me convenceu a ir com ela. Eu nem sabia que Florianópolis existia! A verdade é que sempre tive o bichinho pelo Brasil, mas até à altura sempre achei que o único acordo com o DEM era para o Rio de Janeiro e não me sentia muito segura em ir. Florianópolis por outro lado é mais pequena, mas também mais segura e isso deixou-me descansada – há quem lhe chame a Europa do Brasil. Hoje posso dizer que ainda bem que me deixei influenciar, foi das melhores decisões que já tomei e não me arrependo.
Mas sim, de facto exige uma certa coragem ir viver seis meses para o outro lado do mundo, especialmente quando existem muito poucos testemunhos e pouco feedback. Mas é um risco que vale a pena correr.
Que principais diferenças achaste que havia, em termos de candidatura, entre os programas Convénios e Erasmus+?
A maior dificuldade para mim foram as equivalências e não ter ninguém que nos guiasse. Na Europa, como já houve mais gente a ir talvez exista um maior apoio e que, com base nas experiências passadas, seja mais fácil encontrar equivalências.
Para procurar o plano de estudos foi complicado até porque o site da universidade não era muito acessível e não tinha muitas informações. Como não existe o curso de Engenharia e Gestão Industrial em Florianópolis, tinha de pesquisar quase cadeira a cadeira em cursos como Engenharia de Produção.
Que coisas achas que são mesmo consideradas um must have ou must do antes de embarcar – Uma coisa que fizeste e achaste que foi mesmo fundamental e uma que não tenhas preparado/feito e que depois sentiste falta!
Cinco coisas fundamentais.
Uma coisa que foi muito importante e que eu tive imenso azar: a casa. É preciso ter bastante confiança na pessoa com quem estás a tratar desse assunto ou arriscas-te a ter uma má experiência como eu, em que a casa não tem nada a ver com as fotografias e ficas sujeito a estar do outro lado do mundo a dormir num lugar que não tem as mínimas condições. A minha sugestão é procurarem casa num grupo do Facebook que vos vou disponibilizar, onde estão pessoas que já lá estiveram de Erasmus e vos ajudam neste aspeto! O custo das casas no Brasil corresponde mais ou menos ao custo em Coimbra.
Outro assunto que vocês devem tratar com o tempo devido é a consulta do viajante. Tenta fazer com tempo porque esta consulta está sempre cheia (apesar de agora, com o covid, não deva estar). A consulta é obrigatória e é onde vais tomar as vacinas que precisas para ficares seis meses no Brasil. Eu tomei mais do que era necessário para ir para o Brasil porque mencionei os países que tinha intenções de visitar na América do Sul, pelo que a médica que me atendeu recomendou-me a toma de outra vacina. Como se está em contacto com pessoas de diversas nacionalidades, o melhor é estar prevenida.
A terceira coisa é um seguro de saúde que garante que, no caso de morte, o teu corpo seja transportado para Portugal – fiz na Allianz mas podem fazer noutras companhias de seguros, como a Fidelidade, por exemplo. Pode parecer estranho, no entanto só te consegues inscrever na universidade se tiveres um seguro que cubra isto, dado que eles não se responsabilizam. Para além disto, o sistema nacional de saúde no Brasil não é como o nosso e caso precisem de ir ao hospital, nem vale a pena tentarem ir a centros de saúde e hospitais públicos, pois não vão ter sorte. O meu conselho é terem um seguro que vos cubra o que a universidade pede e também que vos permita serem tratados em locais de confiança, neste caso hospitais privados, caso seja necessário (esperemos que não, claro.)
Outra é o cartão Revolut. Dá imenso jeito para não pagar taxas onde quer que estejas. Também podes fazer o da Caixa Geral de Depósitos de residentes no estrangeiro em que dizes onde estás a residir (através de um comprovativo de morada) e não pagas taxas, no entanto se fores para outro país pagas e por isso o revolut é muito mais prático.
Por último, o visto. Precisas de ter o visto de estudante para poder entrar no país e tenta fazer as coisas com antecedência (sem esquecer também o passaporte!). O semestre no Brasil começa em agosto e por isso vocês têm de ir, no máximo, em julho para lá, pelo que nessa altura já começa a estar muita gente de férias e as consultas e serviços a ficar cheios ou com menor atendimento.
De resto, não têm de se preocupar porque as coisas são bastante similares e acessíveis. Vão para o outro lado do mundo, mas não vão para o fim do mundo, aproveitem a experiência ao máximo!
Apesar da parte linguística não ser uma barreira neste caso, que maiores dificuldades sentiste enquanto aluna de Erasmus e no fundo, como sendo uma estrangeira num país fora da Europa, durante 6 meses? Sentiste, pelo contrário, algum tipo de vantagem em alguma situação?
Na faculdade em específico, e relativamente às cadeiras que tive, acho que dependia um pouco do professor. Cheguei a ter um professor que me adorava porque eu era portuguesa, o que é sempre uma vantagem, mas no geral não se nota muita diferença. Os professores não facilitam por sermos estrangeiros, nós tínhamos aulas com os alunos de lá, não é como a maioria dos destinos da Europa em que existem turmas especificas para alunos de Erasmus. Tínhamos aulas todos os dias e todas obrigatórias, inclusive aulas às 7h da manhã, tal como todos os estudantes brasileiros.
Apesar de não existir muito a barreira linguística, é sempre mais difícil de acompanhar porque os termos técnicos, por exemplo, são diferentes às vezes. O meu conselho é, mesmo para quem é de Engenharia Mecânica, que tente ver disciplinas em Engenharia de Produção, no geral achei que eram mais acessíveis.
Florianópolis costuma ter sempre alguns portugueses, portanto acabas por ter sempre algum apoio se precisares. Mas no geral sempre senti que fui bem recebida, os brasileiros são muito acessíveis e acolhedores.
Se pudesses dizer 2 prós e 2 contras de ir para fora da Europa, em específico para o Brasil, quais apontarias?
A despesa acaba por ser maior, mas esta despesa é mais na parte da viagem para o Brasil em si e toda a documentação que é precisa e que referi antes. Estando lá, o estilo de vida é bastante acessível e parecido ao de Portugal. Acho que é um investimento que vale a pena, uma oportunidade destas dificilmente irá surgir noutra altura das nossas vidas. É muito mais fácil viajar pela Europa em qualquer altura, ainda por mais agora existem voos relativamente baratos. Apesar do voo para o Brasil ter um custo elevado, acaba por ser uma oportunidade de visitar outros países da América do Sul e nestes casos os custos da viajem são bastante acessíveis, cheguei a comprar um voo para o Chile a 40€.
Outra vantagem de ter ido para o Brasil é que o semestre, incluindo exames e recursos, acaba no final de novembro/inicio de dezembro, o que te deixa com dois meses inteiros para viajares. É a oportunidade perfeita para se fazer o mochilão e quem faz mobilidade para a América do Sul acaba sempre por aproveitar. O mochilão é também um investimento, mas lá está, é quase uma oportunidade única na nossa vida e nesta idade é a altura perfeita, até porque é preciso ter um espírito aventureiro e às vezes sujeitares-te a condições que, muitas vezes, não são as melhores. Posso não ter viajado todos os fins de semana como muita gente na Europa, mas no fim fiz esta viagem que, a nível monetário, foi praticamente equivalente e visitei países que, noutras circunstâncias, não teria a chance de conhecer.
Um contra do Brasil talvez seja a segurança. Não é assim tão inseguro quanto isso, especialmente Florianópolis, mas também não é como Portugal, claro. No inverno, Florianópolis é bastante segura, nós inclusive íamos de boleia para a universidade quase todos os dias ou mesmo à saída das discotecas vínhamos sempre a pé para casa e ainda era um caminho de dez minutos. Começa-se a sentir a diferença quando o verão está a começar e a ilha deixa de ter maioritariamente os seus habitantes locais e começa a ficar com mais pessoas de fora. Mesmo assim Florianópolis, mesmo não tendo o nível de beleza do Rio de Janeiro (apesar de ser muito bonita também), acaba por ser mais segura. No Rio de Janeiro, quando lá fui, não tive problemas, mas sentia-se quando se passava por favelas, por exemplo, e em Florianópolis nem te apercebias.
O maior contra, digamos assim, de ir para fora de Europa é o ir a casa por algum motivo, como as épocas festivas, por exemplo o natal. Dado que os voos são bastante caros acabas por ter que decidir se queres ir passar o natal a casa e a tua experiência de mobilidade acaba aí ou se passas o natal onde estás e não com a tua família. Eu acabei por passar o Natal no Brasil e não me arrependo, acho que é uma vez sem exemplo e tinha de pensar em aproveitar a experiência única que estava a viver.
Se pudesses escolher o evento que mais impacto teve para ti, qual escolhias?
O mochilão, sem dúvida. Primeiro é a oportunidade de uma vida e se eu não tivesse ido em mobilidade para o Brasil não tinha conhecido aqueles países, até porque nunca tive curiosidade suficiente que me fosse levar a comprar uma viagem apenas para os ir visitar. Eu fui porque estava lá, tinha essa oportunidade e agarrei-a.
Depois também foi uma questão de expetativas. Quando comecei a viagem não tinha nenhuma expetativa e quando cheguei ao Chile fiquei muito impressionada. Claro que as condições onde dormes e tomas banho podem não ser as melhores, mas a experiência é tão boa que acaba por compensar tudo isso.
Essencialmente, acho que é uma experiência que serve como uma chapada de realidade. Temos, muitas vezes, a mania que somos uns coitadinhos e não temos nada, mas aqui deparas-te com uma realidade onde as pessoas têm dificuldade em ter água potável e coisas mínimas que nós nem sequer damos valor no nosso dia-a-dia. Chegas ali e cais na consciência que a tua vida é um luxo. Acabas por crescer como pessoa, colocas-te no lugar dos outros e acabas por mudar a tua forma de pensar, agir e a dar mais valor a certas coisas mais simples. No Brasil há muita gente pobre, mas também há muita gente muito rica. Naqueles países não, vês muita pobreza e quem não é pobre também vive de forma bastante díspar da nossa.
Eu só consegui ir ao Chile, Bolívia e Peru, mas há quem faça mais: Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Peru e Colômbia. Outra oportunidade de visitarem a meio do semestre são as cascatas do Iguaçu, na fronteira entre o Brasil e Argentina
Foi das experiências que mais gostei, sem dúvida, e a que me acrescentou mais.
Deixo-vos também muitos links e informações que vos possam ajudar e qualquer coisa que precisem podem mandar-me mensagem e tento ajudar-vos no que conseguir!
Se precisarem de mais informações também mais especificas do mochilão podem também falar comigo e ajudo no que conseguir. Estejam à vontade!
Aproveitem tudo o que esta vivência tem para vos dar, tenho a certeza que vai ser das melhores experiências da vossa vida.