Dux Veteranorum

Sente que este ano poderá ocorrer, pós-desconfinamento, a praxe?

Sim, o que se passou oficialmente, é que a Praxe nunca ficou suspensa, a Praxe está é muito dependente da existência de alunos presencialmente na Faculdade, a partir do momento em que a Universidade fecha, a Praxe deixa propriamente de existir, ou seja, como a Praxe ficou apenas limitada, o que irá acontecer aquando desconfinamento é que efetivamente voltará aos módulos que estava antes, com a delimitação do uso da máscara, grupos de dez pessoas e distanciamento.

Pensa que, tanto a comunidade externa, como alguns estudantes, procederão num “Backlash” ao regresso da Praxe?

A Praxe só diz respeito aos estudantes, mas temos que ter a consciência de que vivemos numa sociedade, portanto temos que ter também em consideração aquilo que pode afetar a restante cidade. Neste seguimento, o Conselho de Veteranos, já em outubro, deduziu as guidelines para que a Praxe possa ocorrer em segurança – cabe agora aos próprios estudantes iterar e dar os bons exemplos. A nossa intenção para que a Praxe ocorresse no início do ano tinha como base ensinar os caloiros as normas de segurança e serem os próprios estudantes a darem o exemplo à sociedade. Da mesma maneira que decorreu uma Assembleia Magna com cerca de trezentos estudantes, que, cumprindo as normas de segurança, se deu sem problema nenhum, também a praxe pode decorrer nestes moldes.

Os caloiros têm vindo a perguntar, visto que praticamente não foram praxados, se para o ano o poderiam voltar a ser, tendo também em consideração o Código de Praxe?

O Código de Praxe não permite isso, não é norma praxística. Infelizmente, a pior coisa que esta pandemia trouxe, não foi sequer retirar aos caloiros a possibilidade de serem praxados, foi sim retirar aos caloiros a possibilidade de o serem. O ser caloiro é uma condição da juventude da pessoa, o ser caloiro é um estado de espírito, e efetivamente a pandemia veio limitar muito a liberdade e esta fase da vida deles. Segundo a Praxe, no segundo ano, já não se é efetivamente caloiro – obviamente que isto não impede que não existam estudantes que olhem para certas atividades e sintam que as perderam ou mesmo sentirem que não têm legitimidade para as aplicarem, pois nunca passaram por elas. Penso que seja perfeitamente válido que alguém diga, por exemplo, que “hoje apetece-me ser caloiro”, no entanto tem que haver coerência: se uma pessoa assume que quer ser caloiro então aceitam que é “para o que der e vier”, assim como não se podem colocar ao mesmo nível mental que um caloiro porque, lá está, a maturidade dessa pessoa mudou, e existe uma grande diferença entre a maturidade no primeiro e no segundo ano. Claro que nem eu, nem ninguém no Conselho de Veteranos vê algum perjúrio em algumas pessoas de segunda matrícula quererem também participar do outro lado. É uma coisa que não está proibida. Iremos realizar uma atividade simbólica que marque a passagem de caloiros para Pastranos (no ano passado foi com a serenata, e normalmente é com o cortejo). Quando realizarem a segunda matrícula, já serão efetivamente semi-putos.

Por outro lado, qual é a sua opinião relativamente às pessoas que não foram praxadas mas que queiram praxar imediatamente os próximos caloiros?

Esse vai ser o maior desafio do Conselho de Veteranos no próximo ano. A estes caloiros, que este ano tiveram uma praxe praticamente inexistente, começar por ensinar como funcionam as praxes e a dimensão da Universidade – acima de tudo, dar o bom exemplo. Um órgão muito importante será o Senatus Praxis, que é constituído por representantes das respectivas faculdades e departamentos, que estarão no terreno para apoiar e garantir que não ocorram abusos ou excessos por parte dos semi-putos.

Está prevista alguma alteração do Código de Praxe, ou irá manter-se como está?

O Código de Praxe está neste momento a ser revisto, era para sair no final do Primeiro Semestre, mas não fazia sentido, pois não estava cá ninguém para o aplicar. Ainda existe a possibilidade de sugestão para novas alterações ao Código, mas o que vai ser alterado será a existência de novas hierarquias, sendo que os únicos que se irão manter são os conceitos de caloiro e de semi-puto – isto irá afetar também o ano de carro da queima das fitas, dado que vamos deixar de ter Mestrados Integrados. Ao nível do gozo do caloiro, dificilmente ocorrerá alguma alteração, o próprio gozo do caloiro é orgânico por parte das pessoas que o praticam, e por isso o ato em si não faz sentido estar regulamentado. Haverá alteração no uso das insígnias, sendo que estão também previstas alterações na tentativa de corrigir algumas zonas cinzentas que o atual Código de Praxe tem, tornando-o mais sucinto.

Haverá alguma alteração de datas, para além da data desta edição da Queima das Fitas, que valha a pena referenciar?

Espero que o próximo ano letivo já possa decorrer com toda a normalidade. Para este ano, o Conselho de Veteranos irá tentar organizar algumas atividades tradicionais. Estamos a estudar a possibilidade, no final deste ano, de realizar um evento pontual na semelhança dos que já ocorreram no passado, como o Centenário da Sebenta ou o Enterro do Badalo.

Com a Pandemia, perdeu-se um bocado a ligação entre caloiros e doutores, dando asas à quebra de algumas tradições, especialmente os apadrinhamentos, que decorriam nas faculdades. Com isto, pensa que haverá uma perda das tradições de curso?

Infelizmente penso que sim, a praxe depende muito da memória coletiva, depende da passagem de testemunho entre gerações e penso que se o auge da pandemia tivesse durado mais tempo, muitas tradições se iriam perder. Cabe-nos a nós, agora, mostrar aos atuais e futuros caloiros as tradições que esta academia carrega, mas não só da praxe, como também de todas as associações e grupos, como por exemplo, secções, núcleos, tunas, etc., que existem, mas não tiveram oportunidade de se mostrar durante a pandemia. Tem que haver um quase “pressing” para que todos os caloiros que nasceram na pandemia passem a estar plenamente conscientes de toda a academia.

Alguma informação útil que queira dar aos caloiros?

Queria apelar para seguirem a página do Concelho de Veteranos no Facebook, nós fazemos algum trabalho histórico dos acontecimentos incomuns da academia, sendo que o comum deve ser ensinado pelos doutores, também é nesta página que se libera sempre as novidades sobre a Praxe e eventos relativos a esta. Queria também dizer para não terem medo de usar a Capa e Batina, mesmo não tendo sido praxados.

É um motivo de orgulho, e, mais que um símbolo da Praxe, é um símbolo da Universidade.