Os Quatro e Meia, que rapidamente passaram a ser cinco e meia, são uma banda que tem vindo a conquistar cada vez mais público. Atualmente, são três médicos, dois engenheiros e um professor de música, todos amigos do tempo da faculdade, que se juntam nos tempos livres para fazer canções e dar concertos. Nascidos em Coimbra e um fenómeno da música portuguesa, com dois álbuns editados e com muitos concertos esgotados, os últimos dois no Super Bock Arena no Porto. Hoje temos connosco o Rui, o “meia” como é conhecido, engenheiro civil de profissão para nos contar um pouco das duas realidades.
Para quem começou no TAGV, terem feito dois grandes espetáculos esgotados no Porto não era previsível. Nota-se que foi uma banda que cresceu e que agora está bem estabelecida.
Sim, acho que sim, mas eu nem sei muito bem como é que isso aconteceu. Nós eramos só 6 miúdos que gostavam muito de tocar, mas aos poucos começámos a ter muita gente que gostava genuinamente da música. Depois com a parceria com a nossa agência, a Primeira Linha, acabamos também por conseguir a parceria com a Sony Music e as coisas começaram a ir para outro patamar. Ao mesmo tempo que as coisas foram crescendo, e que o número de concertos foi aumentando também é verdade que estas entidades foram tirando de cima de nós também algum peso. Começamos a estar ligados também a estruturas que nos permitem preocupar-nos com outras coisas, como os trabalhos que todos mantemos diariamente ou a preocupar-nos com fazer as músicas e a ensaiar, do que propriamente andar a lidar com agendamento de concertos e da parte burocrática.
Vocês têm um estilo musical muito característico que faz com que as pessoas que gostam, gostem muito.
Sim, eu diria que sim. Mas quando nos perguntam qual é o nosso estilo nós dizemos sempre de fato e gravata. Na primeira vez, porque íamos tocar ao tagv e para não irmos todos diferentes e como é um estilo simples fomos assim e depois acabou por ficar como uma marca nossa. O que nem sempre é bom atenção! Já tivemos vezes, principalmente no início. Uma vez, no inverno, na Guarda estava imenso frio e o fato que havia era muito fino e tínhamos uns sapatos daqueles que são só para parecer bem, que de confortáveis têm pouco e lembro me que durante esse concerto estive o tempo todo com os pés gelados. Pode não parecer, mas as luzes aquecem muito e ao estarmos ali a mexer, aquecemos, mas o problema são os pés, e foi terrível. E no verão o inverso, um calor imenso, nós a ficar todos transpirados, e como deves calcular não podemos tirar os casacos porque parecemos uns senhores da restauração e não é esse o objetivo, e acabámos o concerto, todos molhados, o casaco todo transpirado e mesmo desconfortáveis.
Vocês são um grupo de amigos de áreas muito diferente e talvez um pouco improvável, mas que resulta muito bem e isso vê se pela dimensão que ganharam.
Sim, fora da música somos um grupo de amigos, não somos colegas. Amigos que antes da pandemia se juntavam e eles iam lá a casa jantar e nós a casa deles.
Antes de estes dois espetáculos, o que é que se sente mais? O nervosismo do que se vai fazer ou a excitação por o fazer?
Olha, o que me veio primeiro à cabeça foi, “eu ainda sei estar em cima de um palco?”. Mas depois tentei por as coisas em perspetiva e pensei que é como estar em cima de um estrado, ao lado das mesmas 5 pessoas e em frente, às vezes, até as mesmas pessoas, pessoas que gostam muito de nos acompanhar. Cada vez que me lembro do concerto fico bastante contente, claro, mas nervoso nem por isso.
Então é mais excitado! Sim, é mais isso e também o medo de voltarmos a confinar e voltarmos a estar tanto tempo sem fazer concertos.
Apesar de não trabalhares aqui, vives em Coimbra. É o amor que se ganha à cidade que te fez ficar nela?
É ótimo viver em Coimbra. Para mim é a cidade que tem o ponto ideal de movimento, ou seja, não me sinto com idade para viver numa aldeia, mas também não preciso de viver no frenesim de Lisboa ou do Porto. Coimbra tem esse ponto de equilíbrio que eu gosto muito.
Tu és de engenharia civil. O que é que engenharia civil tem a ver com a música? Só a parte académica?
Sim, mas talvez a parte da matemática também. Acabam por se traduzir em linguagens diferentes. A música também é muito matemática tal como a engenharia. A ponte entre essas duas coisas foi eu ter vindo estudar para Coimbra e ter conhecido aquelas pessoas. Se isso nunca tivesse acontecido nunca se teria feito a banda nestes moldes. Acaba por ter sido mais termos estudado todos na Universidade de Coimbra do que o curso em si. A música acabou por ligar pessoas de cursos totalmente diferentes que tinham ali uma paixão comum.
E porquê engenharia civil e não engenharia mecânica?
Se pensares bem eu gosto muito de engenharia mecânica porque fui fazer mestrado, mas sempre achei o conceito de engenharia uma paixão profissional. O problema era saber o que queria mesmo fazer e onde te encaixava melhor. O ir para Engenharia Civil não foi porque gostava mais que Engenharia Mecânica porque não tive grande informação do que se fazia em cada curso, mas por conhecimento geral a Engenharia Civil é mais percetível, como fazer casas. Engenharia Mecânica é mais para os carros, mas eu não me via a fazer em engenharia algo tão específico como a área automóvel. Claro que agora sei que é muito mais que isso, mas não sabia.
Acho que as engenharias se completam muito bem e quando decidi ir fazer mecânica foi pelo conhecimento. Nunca exerci essa área e provavelmente nunca vou exercer, mas foi uma questão de conhecimento não foi uma necessidade que senti. À partida, quem quer ir para engenharia, tem que ter o bichinho da curiosidade para saber como as coisas funcionam e como tendem a encaixar entre si.
Coimbra, por algum motivo em específico ou só por ser mais perto?
Eu acho que Coimbra foi tudo. A distância tem muito haver porque, obviamente, para quem tinha de olhar a esses custos, Coimbra para mim fazia mais sentido, em termos económicos, do que Lisboa ou Porto e ficava muito mais próximo da família. Além disso, Coimbra tinha e que tem nome, principalmente em Engenharia Civil. Acho que as engenharias estão todas a caminhar para o avanço e para o progresso, mas acho que faltam recursos, porque nós temos muito bons investigadores nas universidades, mas sem grandes recursos as coisas acontecem de forma muito mais lenta do que o que as pessoas gostariam que acontecessem.
Agora para acabar duas perguntas rápidas sobre a vida académica.
Se tiveres de escolher entre a alta e a associação académica para ir beber um copo com os amigos qual escolhias? Opá, se calhar enquanto estudava a alta, agora talvez a associação académica.
Polo 2 ou polo 1? No geral ou para copos? No geral. Eu fazia questão de viver onde estudava, no polo 2 mas sair no polo 1 até porque o polo 2 não tinha e não tem grande oferta. Mas era mais fácil combater aquela vontade de não levantar e ir às aulas se tivesse ali mais perto, então fazia isso, vivia no polo 2 e ia sair ao polo 1.